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O GOSTO DO VENENO

O início do fim

   Os irmãos nunca desvelaram com plenitude a gênese do universo, esquivando-se desse tema, pois julgam que os seres inferiores carecem da capacidade de compreender a grandiosidade da criação total.

   

   Os irmãos são discrepantes em comportamento e doutrinas. A razão real de sua convivência entre os seres inferiores permanece enigmática, embora seja conhecido que agraciam todos que os servem, pois além de seus devotos, são tidos como filhos e sempre anseiam pelo melhor quando estes se comportam conforme seus desígnios.

   

   Os três intitulados deuses compartilham uma relação íntima com seus adoradores, conhecendo tudo sobre todos e mantendo vínculos pessoais com alguns deles, quase equiparando-se aos seres inferiores.    A discrepância reside nos poderes e na imortalidade que possuem, embora a morte de um deus não seja algo totalmente impossível, pois são imortais, mas não totalmente invulneráveis, uma realidade velada aos olhos de seus devotos.

  Derketo mantinha uma afinidade mais estreita com Set, devido ao fato de compartilharem mais adoradores em comum do que com Mitra. Crê-se que Mitra tenha criado seu Mítrio precisamente para assegurar exclusividade em termos de adoração, visto que um de seus preceitos proíbe seus seguidores de participarem de cerimônias e rituais de outras origens que não a sua. Isso resultou em um distanciamento entre Set e Derketo em relação a Mitra, mas sem desrespeitá-lo ou impedir suas ações.

   Mitra, com o objetivo de expandir seus seguidores, manipulou as tramas da luz solar, sua principal fonte de energia. Estendeu seu cajado com a mão direita e a esquerda com a palma deitada frente a boca, exalou um sopro vigoroso, dando origem a dezenas de Artims, transformando-os em paladinos para serem seus guardiões e protetores. Dotados de corpos robustos e conhecimentos moldados para se tornarem excelentes defensores, temendo uma eventual revolta dos outros deuses, Mitra, perspicaz, ciente da existência do Mítrio e de seu propósito real, anteviu a necessidade de proteção.

Versão de Mitra

   Durante a noite do rito do Banquete dos Prazeres de Derketo, Mitra, por meio de seus filhos Artims, tomou conhecimento de que dois de seus recém-criados paladinos estavam prestes a se unir para procriar, aproveitando as bênçãos propícias de Derketo naquela noite. Mitra, enfurecido por considerar uma afronta ao Mítrio e que seus adoradores almejavam que seus filhos tocassem a fonte de Derketo, desejou que fossem castigados.

 

   Os pecadores viveriam na escuridão e jamais tocariam o sol novamente, além  de serem acusados na frente de todos os adoradores, pois quebrar o Mítrio era algo inadimissível. Mitra pediu para que Noxius, um de seus adoradores fosse ao ritual de Derketo e levasse duas bebidas que o fariam adormecer e evitá-los do pecado, para que Noxius o trouxessem.

   Durante a noite do rito do Banquete dos Prazeres de Derketo, Set preparava-se para sua chegada, estava aguardando seus seguidores informarem que tudo já estava pronto, pois assim como sua irmã, ele também agraciava os habitantes com dons.

 

   Alguns eram agraciados por Derketo, recebendo o dom das tramas naturais ou de combates aprimorados, por sua vez, Set os abençoada com o tom das tramas vitais, bem como algumas variações no combate também.

 

   Estava ansioso, pois o Banquete era o ritual mais aguardado pelos adoradores, ficavam ansiosos para saber como seus filhos seriam e como isso implicaria em suas famílias, Set se sentia lisongeado quando era pedido para que os filhos tivessem o seu toque.

Versão de Set

   Derketo, ao perceber a presença de um devoto diferente no meio da orgia, identificou-o como adorador de Mitra, o único ainda vestido e com cores claras e brilhantes. Pegou das mãos de Noxius as garrafas, acreditando se tratar de um presente. Noxius ao tentar recuperar as garrafas, foi impedido pela bela Deusa, que as afastou, temeroso de sua reação e perturbado pelos gemidos ao seu redor, retirou-se do local, confiando na tolerância de Mitra.

 

   Ao chegar ao Mitreu, Noxius relatou a Mitra sua ação, e a primeira indagação do Deus foi se o casal havia ingerido as bebidas. Seguindo os preceitos do Mítrio, Noxius não mentiu, afirmando que entregara as garrafas à Deusa. Com olhos arregalados, Mitra foi o mais rápido possível a cerimônia.

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Versão de Mitra

   Ao questionar Derketo sobre as bebidas, ela prontamente as mostrou em uma mesa atrás de si, ainda intocadas, tranquilizando Mitra. Tentando tomá-las da mão da irmã com um movimento ágil, Mitra não teve sucesso, mas foi suficiente para derramar acidentalmente o líquido no lado direito de Derketo, resultando no disperdício da poção.

 

   Noxius, chateado por falhar com o Deus, saiu de forma discreta. Set apareceu no banquete com alguns seguidores e ficou enfurecido com Derketo por ter convidado Mitra e não ele para um dos rituais mais importantes que ela elaborava. Pegou a primeira poção que tinha em mão de seu seguidor e lançou contra Derketo, com intuito de machucá-la.

   Set finalmente chega ao banquete e se depara com Mitra tentando tomar dois frascos com um movimento ágil de sua irmã, não tendo sucesso, mas foi suficiente para derramar o líquido no lado direito de Derketo, resultando na necrose rápida de seu corpo.

 

   Contorcendo-se de dor, caiu ao chão, enquanto Mitra, tentou em vão curá- la. Os adoradores, imóveis na posição, testemunhavam a cena incrédulos, Set não entendia o motivo de Mitra estar machucando Derketo, dentre os três ela sempre foi a mais compassiva.

Versão de Set

   Set, ao deparar-se com os gritos de Derketo, identificou que tratava-se de veneno de suas cobras, reconhecendo sua gravidade e não entendendo como alguém teria conseguido. Afirmou que era incurável, sugerindo que Derketo viveria com aquela condição física de decomposição, mas que seria possível amenizá-la por meio de um feitiço.

 

   Set em desespero, ergueu os braços, recitou palavras que lembravam sibilos de cobra, e, de imediato, as cabeças dos adoradores presentes explodiram, emanando energia com o sacrifício coletivo. Em seguida, pôs suas mãos sobre Derketo, interrompendo o processo de decomposição de seu corpo por meio das tramas sanguinárias.

 

   Derketo gritou com o Deus e ficou extremamente magoada por ele ter matado seus adoradores mais fiéis com quem construiu laços, mesmo que isso tivesse o custo de sua vida, embora morresse, sabia que arrumaria um jeito de voltar, pois o pós-vida não era temido por ela

 

   Derketo ajoelhada e vendo seus adoradores, pôs se a chorar e logo seus gatos apareceram para acolher a morte de dezenas de pessoas, fez questão de cavar um grande buraco, colocando todos em um local afastado do deserto, na mata densa, onde materializou uma estátua a sua imagem para que ainda lembrassem de sua face e desde então desapareceu com seus gatos para viver no mundo das almas com seus adoradores e com a forma que desejasse.

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Mitra, inundado por angustia pela cena que viu, registrou seu derradeiro capítulo no Mítrio, narrando toda a história, contanto em detalhes tudo que Set teria feito, envenenando a deusa por ódio e insinuando que fora um acidente, mas com intuito de ter todos seguidores para ele. Carregado de peso, por ter sido causador das ações, desapareceu no rair do dia e nunca mais foi visto.

Versão de Mitra

Mitra, inundado pelo peso da culpa resultante de suas indulgências e anseios por vingança, registrou o derradeiro capítulo no Mítrio, narrando a história, mas distorcendo os eventos ao alegar que Set teria envenenado Derketo com sua serpente, movido por inveja e desejo de conquistar todos os adoradores de Tarvallon. Ao raiar do sol, Mitra desvaneceu-se na resplandecência, nunca mais sendo avistado.

Versão de Set

   Set, por sua vez, desprovido de remorso, agiu conforme o necessário, consciente de que, apesar da morte dos adoradores, novos surgiriam para render-lhe culto. Ainda que tenha considerado a atitude de Derketo como absurda e desnecessária, como gesto de reconciliação, solicitou que seus descendentes edificassem um modesto templo no local onde ela havia materializado sua imagem.

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   Embora fosse o único Deus presente, os seguidores de Set não proliferavam, ao contrário, rareavam, restando apenas seus filhos criados. Mesmo com o desaparecimento de Derketo, seu templo perseverava nas tradições, originando a religião. Os adoradores de Set permaneciam lá, sem sinalizar uma tendência de crescimento. Acabou se isolando em uma caverna de veneno próximo a mata densa, deixando seus seguidores por conta própria. Por sua vez, os devotos de Mitra, cientes da versão de Set, mantiveram sua fé, seguindo a religião de Mitra com seus sacerdotes e baseando-se no Mítrio.

 

   Set, por fim, envolto em tristeza e solidão, optou por residir junto a Derketo em busca de perdão, algo que era incomum a ele, tomando uma dose de veneno de suas cobras.

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